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Meu Corpo é Real

MICHELE SIMÕES É DAQUELAS MULHERES QUE TÊM A CABEÇA BORBULHANDO DE IDEIAS E AS COLOCA EM PRÁTICA CUSTE O QUE CUSTAR. E FOI ASSIM DEPOIS DO ACIDENTE QUE A DEIXOU PARAPLÉGICA. SEU CORPO PERDEU PARTE DOS MOVIMENTOS, MAS ISTO NÃO A IMPEDIU DE IR LONGE

Por Drica Rosa

 

Era 2006 e ela uma recém-formada em Estilismo e Moda quando um acidente a fez ter uma grave lesão medular que a deixou sem os movimentos das pernas. Foram três meses de internação e quatro anos até conseguir sentar com firmeza na cadeira de rodas. Esse processo a fez criar um projeto chamado Guia do Viajante Cadeirante, em que ela mostrava como era ser deficiente e fazer intercâmbio.

Foi durante uma segunda viagem, desse mesmo projeto, que a estilista visitou uma exposição de moda inclusiva e percebeu que poderia colocar em prática sua profissão, focando todos os corpos, inclusive os dos deficientes, pois cada corpo quer se comunicar. Assim, surgiu o projeto “Meu Corpo é Real”, que cria para todos. Hoje, aos 35 anos, Michele é segura, inspiradora e determinada. Além da faculdade de

Moda, fez pós-graduação em Comunicação e Cultura de Moda e está terminando sua especialização em Consultoria de Imagem. Ouvir suas ideias e história é um presente.

Me fale um pouco como foi o momento que mudou a sua vida e como você reagiu quando soube o grau da lesão (o que você fazia na época e quando foi)?

Era 2006 e tinha acabado de me graduar em estilismo e moda no Paraná e vim para São Paulo. Sofri um acidente de carro e fraturei a coluna. Costumo dizer que troquei de corpo da noite para o dia. Sempre me movimentei muito e de repente tudo mudou. No início não fiquei feliz em mudar de vida tão repentinamente. Mas, nunca me revoltei. Sou prática e pensei que naquele momento precisava me reabilitar.

Como foi levantar a cabeça, seguir em frente e usar tudo o que aconteceu para criar projetos incríveis na sua área?

O levantar a cabeça foi gradual. Quando você sofre uma lesão medular, é assustador, mas, se você consegue entender que a mudança tem um propósito, você tem dois caminhos: se questionar por que aconteceu ou aceitar que é isso que tenho hoje e pensar: ”o que vou fazer com isso?”. Como tudo agora é lento, a vida se torna um exercício de paciência. E esse processo de espera me ajudou a reconhecer conquistas pequenas. Exemplo: Depois de quatro anos, quando fui cozinhar, algo que nunca dei importância, foi maravilhoso.

Fale um pouco sobre eles e o quão importante é chamar essa atenção para o corpo real dentro da moda

Eu tinha um projeto Guia do Viajante Cadeirante e fiz um intercâmbio. Por um período eu fiquei órfã de produção porque tudo o que aprendi na faculdade não era para pessoas com deficiências. Criei uma marca de bolsas e este projeto de cadeirante. Fui para Toronto e lá eu comecei a me aproximar do meu corpo, ter mais autonomia. No ano seguinte, uma agência me patrocinou para eu ir para Montreal e Toronto.  Eu estava na rua e uma pessoa me avisou que estava tendo uma exposição de moda para pessoas com deficiência. Aí, vi peças desenhadas para várias pessoas. Isso me mudou. Aí voltei e percebi, me olhando no espelho, que aquele corpo poderia estar na moda. E então, comecei a me comunicar através das roupas. E as pessoas começaram a perceber a Michele e não a cadeira de rodas. Por isso, defendo que a moda é um meio de comunicação.

Em 2015 fiz minha pós-graduação em Comunicação e Cultura de Moda e percebi que a invisibilidade começa dentro da sala de aula. Não é comum uma pessoa cadeirante na moda. Percebi que existiam dúvidas e curiosidade em entender o que tinha de diferente no meu corpo. Com isso quis criar para todos. Exemplo: quando comecei a pesquisar, percebi que tem pessoas acima do peso, ou de uma determinada cor diferente etc… Foi quando quis falar dos “corpos reais” para fazer esse resgate da sociedade. Eu acredito que isso é uma forma de reeducar o mundo. A gente poder trabalhar com mais realidades e menos fórmulas, trará muita mudança para os corpos reais e as vidas reais.

Você tem a arte de olhar sempre para frente, de forma positiva e se reinventar. Para 2018, quais os desejos?

Para 2018 estou terminando minha especialização em consultoria de imagem para integrar estes corpos reais e quero levar isso às marcas com o projeto “Meu Corpo é Real” para que eles coloquem essa teoria em prática nas peças que produzem.

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