voltar
A Força do Bem

Desafios no mercado de trabalho: como ONGs encorajam mulheres a transformarem sua realidade

Em 2020, 480 mil postos de trabalho com carteira assinada foram perdidos no Brasil. Mais de 462 mil eram ocupados por mulheres, cerca de 96% segundo dados do Ministério do Trabalho. A pandemia do coronavírus potencializou o cenário de desemprego feminino, que já era visível antes do impacto global. Os reflexos são muitos: enquanto buscam um novo espaço no mercado, as mulheres ainda desempenham seus múltiplos papéis como mães e esposas.

Os desafios também são vividos entre aquelas que se mantêm no mercado de trabalho e, inclusive, ocupam cargos de liderança em grandes empresas. De acordo com as últimas estimativas do World Economic Forum (Fórum Econômico Mundial) para 2021, o tempo necessário para que as mulheres alcancem a igualdade de gênero no mundo corporativo está previsto em 136 anos. Um caminho longo e trabalhoso.

IMG_5513

Fotos: acervo pessoal/divulgação

 

Na pesquisa Panorama Liderança Feminina: a visão delas sobre os desafios de gestão, realizado pelo Startse em parceria com o Opinion Box em agosto de 2021, as barreiras mentais de 783 líderes do país ficaram visíveis. Entre as mais recorrentes, aparecem o receio de falhar, ter que lidar com os estereótipos e não conseguir desenvolver um bom networking.  

Apesar de 30% afirmarem que há mais ou menos a mesma quantidade de homens e mulheres em cargos de liderança, para a maioria a realidade da sua empresa ainda é de homens ocupando essas posições.

Para ajudar a mudar uma realidade marcada por desigualdade e desemprego entre as mulheres, organizações se empenham em lutar por educação, qualificação profissional, desenvolvimento de carreiras e acolhimento. São agentes transformadores de vidas e famílias inteiras.

Situada em São Paulo, a AFESU é uma das 100 melhores ONGs do Brasil pelo quarto ano consecutivo. Fundada em 1963, ela oferece apoio escolar e cursos técnicos e profissionalizantes gratuitos para mulheres de 8 a 24 anos inseridas em regiões de alta vulnerabilidade social. A organização quer torná-las líderes em suas carreiras, universidades, empresas ou lares.

“O trabalho começou para que pudessem contribuir com o sustento de suas famílias. No início, as atividades eram focadas em cursos de tapetes de arraiolo, crochê, corte e costura, projetos que oportunizavam as alunas venderem seus produtos. Devido a perda de espaço por parte da manufatura artesanal, a organização estendeu seu público de beneficiárias, criando cursos para crianças e jovens focados no apoio escolar e cursos profissionalizantes nas áreas como empreendedorismo, tecnologia, gastronomia e enfermagem”, explica a gerente de desenvolvimento institucional Elis Kauahara.

 Mais de 12 mil mulheres já foram beneficiadas ao longo da sua história. Cerca de 90% das ex-alunas estão trabalhando ou estudando. A AFESU acredita que o maior receio de quem chega até a ONG seja repetir alguns ciclos viciosos de suas famílias e comunidades, como falta de oportunidades de trabalho e violência doméstica.

Imagem1

Fotos: acervo pessoal/divulgação

Além de cursos focados na formação profissional, é desenvolvida a autoestima, a inteligência emocional e o amadurecimento pessoal dessas mulheres. “Trabalhamos com uma formação personalizada com foco no desenvolvimento de habilidades intrapessoais – a relação consigo mesma – e  interpessoais – a relação com os outros  – no meio social, familiar e profissional. Aprender a praticar as melhores atitudes para controlar emoções, alcançar objetivos, demonstrar empatia, manter relações sociais positivas e tomar decisões conscientes”, ressalta Elis.

Ainda em São Paulo, outra organização sem fins lucrativos conecta as mulheres ao mundo do trabalho. A Cruzando Histórias promove o acolhimento de mulheres em desemprego, a fim de recolocá-las no mercado. Isso acontece através de orientação de carreira, divulgação de vagas e apoio psicológico online.

“Nós trabalhamos com metodologia própria, a EscutAção, que conduz todas as nossas ações, oferecendo acolhimento através da escuta ativa. Uma mulher que não acredita no seu potencial e não está motivada, dificilmente se sairá bem num processo seletivo, ou mesmo quando isso acontece, percebemos que a permanência na empresa pode estar ameaçada. Em alguns projetos, as mulheres podem acessar o acolhimento psicológico individual ou as sessões de psicoterapia breve em grupo”, conta a fundadora Bia Diniz.

As mulheres que procuram a Cruzando Histórias têm em média 37 anos e 54% delas são mães. Os indicadores sociais ainda mostram que 56% se autodeclaram pretas ou pardas. Através do curso Impulsione Sua Carreira, as participantes podem criar currículos, atualizar o Linkedin, se preparar para processos seletivos e definir os objetivos de carreira.

“Desde 2021 a ONG atende só mulheres e nossa média de recolocação profissional está em 30%, porcentagem que temos orgulho considerando as adversidades do mercado de trabalho e impactos negativos da pandemia. Os relatos são emocionantes, para além da recolocação profissional, muitas delas expressam o quanto é intenso o resgate do valor de suas histórias”, reforça Bia.

Muitas organizações e projetos espalhados pelo país trabalham para encorajar as mulheres em suas vidas como profissionais, mãs, esposas e donas da sua própria trajetória. A disparidade entre gêneros ainda é grande – e irá demorar para ser extinta – mas ajudá-las a caminhar em busca de novos espaços é uma forma de fortificá-las e prepará-las para passos mais firmes e determinados.